terça-feira, 9 de outubro de 2012

Radicais Livres e Anti-Oxidantes

Hoje venho falar de algo que, muito provavelmente, já terão ouvido falar: Radicais Livres e Anti-Oxidantes.

Começo por apresentar algumas características dos radicais livres e o porquê de serem conhecidos como prejudiciais para a saúde.
Apresentarei depois algumas estratégias de defesa e alguns exemplos de anti-oxidantes.

Radicais livres:

Halliwell, 1994, refere que radicais livres são todas as moléculas orgânicas e inorgânicas, assim como os átomos que contêm um número ímpar de electrões. Esta configuração faz com que estes elementos sejam instáveis e quimicamente reactivos.


Os radicais livres podem ser formados no citoplasma, na membrana ou nas mitocôndrias e o seu alvo celular  poderá ser as proteínas, os lípidos, os hidratos de carbono ou o ADN, dependendo do local onde estes radicais se formam.

Como ocorre o processo prejudicial oxidativo:

A acção catalítica das enzimas, durante processos de transferência de electrões provenientes do metabolismo celular, e a exposição a determinados factores externos conduzem à formação de radicais livres nos seres vivos. Como exemplo de factores externos temos as radiações gama e ultravioleta, os medicamentos, uma dieta incorrecta e o tabaco.

O stress oxidativo corresponde à indução de danos celulares pelos radicais livres, induzidos pelo desequilíbrio entre elementos oxidantes e anti-oxidantes.

Os danos resultantes do stress oxidativo têm sido associados a diversas doenças conhecidas, entre as quais as cardiopatias, a arteriosclerose e algumas doenças pulmonares. Adicionalmente, os danos causados por elementos oxidantes no DNA poderão resultar em problemas relacionados com a mutação e o cancro.

Estratégias e mecanismos de protecção anti-oxidante:

Sies & Stahl, 1995, definiram anti-oxidantes como "qualquer substância que, presente em baixas concentrações quando comparada a do substrato oxidável, atrasa ou inibe a oxidação deste substrato de maneira eficaz".

Esses agentes anti-oxidantes poderão ser classificados como anti-oxidantes enzimáticos ou não-enzimáticos:

Exemplos de anti-oxidantes Enzimáticos:
  • Superóxido dismutase;
  • Catalase;
  • Enzimas de reparo...
Exemplos de anti-oxidantes Não-Enzimáticos:
  • Vitamina E (alfa-tocoferol);
  • Beta-Caroteno;
  • Vitamina C (Ácido ascórbico);
  • Flavonoides;
  • Selénio;
  • Clorofilina...
Em relação aos mecanismos de defesa, os anti-oxidantes poderão actuar de diferentes maneiras:
  1. Poderão impedir a formação de radicais livres, principalmente através da inibição das reacções em cadeia com o ferro e o cobre;
  2. Poderão interceptar os radicais livres gerados pelo metabolismo celular ou por fontes externas, impedindo assim que os danos ocorram. As vitaminas C, E e A, os flavonoides e carotenoides (todos obtidos da dieta) são muito importantes na intercepção de radicais livres.
  3. Poderão reparar as lesões provocadas pelos radicais livres, através da remoção de danos da molécula de ADN e a reconstrução das membranas celulares danificadas;
  4. Poderão favorecer uma adaptação do organismo em resposta à geração destes radicais, através do aumento de enzimas anti-oxidantes.
Os organismos eucariontes, ou seja, os organismos compostos por células com um núcleo celular rodeado por uma membrana e vários organelos (ex.: seres humanos) possuem enzimas anti-oxidantes que reagem com os compostos oxidantes e protegem as células dos danos provenientes desses agentes agressivos. Adicionalmente, a adição de anti-oxidantes à dieta é muito importante. O aumento do consumo de frutas e vegetais está directamente relacionado com uma redução do risco de desenvolvimento de doenças associadas ao stress oxidativo.

A literatura menciona várias vezes que a junção das vitaminas C e E é benéfico na inibição da peroxidação dos lípidos da membrana e na protecção do ADN (Gey, 1998). No entanto, a importância dos vários anti-oxidantes dependerá de vários factores, nomeadamente, do tipo de radicais livres formados, de onde e como estes são gerados, das doses ideais para obter a protecção, entre outros. Assim, é comum que determinado tipo ou dosagem de anti-oxidantes para um determinado organismo seja favorável na prevenção do stress oxidativo enquanto que noutro organismo seja nulo, ou mesmo, aumente as lesões provocadas pelo mesmo.

Alguns alimentos têm compostos oxidantes, naturalmente ou induzidos pelo processo de preparação para consumo. No entanto, outros alimentos, nomeadamente frutas e verduras, contêm elementos anti-oxidantes, como as vitaminas C,E e A, a clorofilina, os flavonoides, os carotenoides, curcumina, entre outros, que são capazes de reduzir a propagação das reacções em cadeia dos radicais livres e as lesões daí resultantes.

Vitaminas Anti-Oxidantes:

As vitaminas C, E e o beta-caroteno são excelentes anti-oxidantes, capazes de neutralizar os radicais livres existentes no organismo. Como referido anteriormente, existem vários factores externos que conduzem a uma redução de anti-oxidantes no organismo. No entanto, poder-se-á repor os níveis de anti-oxidantes através de uma dieta equilibrada, com base em frutas e verduras.

A vitamina C foi ensaiada em animais onde foi possível concluir que protege contra os efeitos nocivos resultantes da exposição a radiações e medicamentos. No caso dos seres humanos, foi possível identificar uma ligeira protecção no desenvolvimento de tumores. No entanto, é necessário avaliar as necessidades diárias de vitamina C especificamente para cada indivíduo, uma vez que existem componentes orgânicos e inorgânicos nas células que podem modelar a actividade da vitamina C.


A vitamina E é um componente dos óleos vegetais que impede ou minimiza os danos provocados pelos radicais livres, associados a problemas como cancro, artrite, cataratas e o envelhecimento.

A vitamina A tem apresentado uma acção preventiva de problemas como o cancro da bexiga, mama, estômago e pele, em estudos realizados em animais. O beta-caroteno, o principal precursor da vitamina A, encontra-se amplamente distribuído nos alimentos e possui uma forte acção anti-oxidante.

Flavonoides Anti-Oxidantes:

Os anti-oxidantes mais activos e frequentemente encontrados nos vegetais são os compostos fenólicos, nomeadamente, os flavonoides. As propriedades benéficas destes compostos prendem-se, principalmente, com a capacidade de neutralizar a acção dos radicais livres, uma vez que têm a capacidade de doar um átomo de hidrogénio e assim inibir as reacções em cadeia provocadas pelos radicais livres.

Alguns exemplos de compostos fenólicos são o ácido caféico, o ácido gálico e o ácido elágico. Estes compostos são capazes de inibir o processo de peroxidação lipídica.

O ácido elágico, encontrado em uvas, morangos e nozes tem sido eficaz na prevenção do cancro, induzido pelas substâncias do tabaco. No entanto, lembrem-se, deixar de fumar é a melhor forma de prevenir.


A quercetina está presente nas frutas e vegetais e é o flavonoide mais abundante encontrado no vinho tinto. Pode reagir com ferro e tornar-se um pró-oxidante.


Knekt et al. (1997) encontraram uma relação directa entre o consumo de flavonoides na dieta e a redução da probabilidade de contrair cancro em indivíduos na faixa etária de 50 anos e não-fumadores. Adicionalmente, puderam concluir que o consumo de maçãs foi o que melhores resultados apresentou na prevenção do cancro do pulmão.

Minerais Anti-Oxidantes:

Da leitura efectuada até agora, é possível associar a iniciação e promoção de processos cancerígenos ao stress oxidativo. As enzimas anti-oxidantes, dependentes de selénio e zinco, encontram-se em quantidades reduzidas nas células tumorais. Existe na literatura variadas referências à relação entre o consumo insuficiente de selénio e o desenvolvimento de tumores. No entanto, é necessário não abusar do consumo do mesmo, uma vez que poderá ter o efeito contrário e aumentar os processos de formação de cancro.

Conclusão:

É possível concluir que o consumo de anti-oxidantes é importante na prevenção de várias doenças que afectam o ser humano. No entanto, o excesso de consumo poderá interferir com processos celulares, incluindo alterações na actividade enzimática e na estrutura das membranas, provocando o efeito contrário e potenciar o aparecimento dessas mesmas doenças.

Fonte: "Radicais Livres e os Principais Antioxidantes da Dieta" - BIANCHI, Maria de Lourdes Pires; ANTUNES, Lusânia Maria Greggi, 1999.

Diet & Exercise

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